[ sobre o projeto ]
A área de lazer existente no litoral norte de São Paulo era composta por quadra poliesportiva e quadra de tênis, ao lado de um salão de jogos que funcionava num antigo galpão, antes utilizado no canteiro de obras durante a construção do condomínio. O galpão, na época, foi adaptado com vestiários e um bar para atender as dependências das quadras e da piscina comum do condomínio.
O briefing passado pelos proprietários era tornar aquela área mais humanizada propondo áreas de convívio para dos condôminos, já que a antiga construção não propiciava condições adequadas para longa permanência, sendo utilizado mais pelas crianças.
O partido principal adotado foi aproveitar toda a estrutura e materiais existentes, buscando minimizar impactos ambientais e aproveitar ao máximo soluções passivas tornando a área autossuficiente, e visando uma redução de custo com demolições, novas construções e impactos diretos com novas áreas construídas.
A antiga cobertura, antes planejada para proteger os equipamentos de obra e oficinas, não atendia as necessidades do novo uso do espaço como uma área de convívio pois a iluminação e ventilação estavam prejudicados. A proposta de uma cobertura nova deveria ser muito bem planejada para atender ao novo uso e justificar a dispendiosa troca.
Para reduzir o peso e consequentemente gastos com materiais para a estrutura da nova cobertura, foi adotado o sistema de cobertura por manta do tipo Alwitra, revestindo painéis de OSB aparentes sob o forro. A disposição das águas do novo telhado foi elaborada buscando otimizar a ventilação e iluminação, considerando as variações climáticas do entorno. Implantada paralela a linha do mar, a construção proporcionava fácil leitura do seu comportamento com as variações climáticas locais.
Durante o dia, com o aumento da temperatura, o sol que aquece a terra mais rápido do que a água do mar, cria uma pressão negativa no continente fazendo com que vento sopre do mar para a terra (marau). Foi prevista então nesta face da edificação uma captação de ar maior criada com a própria inclinação da água do telhado e os caixilhos com aberturas superiores, possibilitando a entrada deste ar pela camada superior do ambiente interno. Uma outra saída de ar no outro lado do telhado faz com que o ambiente tenha a sua renovação do ar.
Durante a noite, o processo se inverte, a água do mar aquecida durante o dia retém o calor por mais tempo do que a terra, que se resfria mais rápido. A pressão negativa acontece sobre o mar fazendo com o que a massa de ar sopre no sentido da terra para o mar (Terrau). Desta forma, foi prevista uma abertura menor, do outro lado da edificação, estáA demolição da cobertura de telhas de barro existente no antigo projeto geraria uma quantidade considerável de entulho. Principalmente nesta região litorânea, onde a fiscalização de despejo não é tão eficiente. Foi então proposto o aproveitamento deste material na obra. As vedações dos novos ambientes propostos, que antes seriam executadas em tijolo, foram executadas em concreto utilizando as telhas antigas moídas como agregado. Nenhuma telha foi desperdiçada no processo e todas as paredes novas foram concluídas com este material.
A Sauna, também parte do programa, foi disposta numa das faces da construção com uma abertura em vidro para contemplação voltada para a área do jardim e piscina. As paredes executadas respeitando as espessuras dos pilares existentes (25cm) executadas com o agregado em telhas de barro moída, eliminaram também a necessidade de isolante térmico nas paredes.
Buscando otimizar também o layout e circulação entre os ambientes nos permitimos criar jardins internos cobertos apenas por pergolados, trazendo, além do verde, a umidificação do ar para dentro da edificação. Áreas com cobertura e sem vedação puderam criar ambientes de estar intermediários entre o solarium da piscina e as áreas internas de sala de jogos e sala de estar. A área da mesa de sinuca foi também isolada para que seu uso pudesse estar separado das barulhentas mesas de ping-pong e pebolim.
A estrutura do telhado, apesar de antiga, também foi toda aproveitada como estrutura do novo deck e do mobiliário proposto. No meio do conjunto, para que na área de sala de estar tivesse apenas a troca de ar e o vento se concentrasse na parte superior acima da altura do usuário. Esta segunda abertura, aliada ao branco da manta Alwitra, cria também uma eficiente bandeja de luz natural em todo o comprimento da edificação.
A área nova de banheiros e vestiários foi tratada com claraboia de iluminação zenital que, em conjunto com pequenas aberturas na alvenaria com o lado externo, possibilitam a renovação do ar por uma ventilação permanente. Aproveitando o aquecimento do ar na claraboia este sobe criando um fluxo constante de baixo pra cima, sendo alimentado pelos orifícios inferiores. Para evitar a entrada de animais, estes orifícios foram fechados com a antiga treliça de madeira que era utilizada como forro da antiga construção.
Toda a nova cobertura possui uma única captação de água aparente, para facilitar a manutenção e também para que sirva de maneira lúdica para as crianças que frequentam o espaço. Uma grande mangueira transparente conectada a estrutura nova mostra o fluxo de água que segue para cisterna semienterrada. Quando a cisterna está cheia, a própria mangueira indica, através de vasos comunicantes, o nível da água. A água é captada na cisterna para ser aproveitada na irrigação, limpeza das áreas comuns do condomínio e nos vasos sanitários dos vestiários.
Parte do mobiliário foi também desenhado pelo escritório prevendo um uso intenso pelas diversas faixas etárias que frequentam o condomínio. As luminárias do projeto também deveriam fazer parte da composição e de simples manutenção. Foram criadas luminárias que pudessem ser utilizadas de diferentes maneiras, que, com a mesma forma, pudessem ser invertidas suprindo necessidades de luzes diretas e indiretas, criando uma unidade em todo o projeto.